quinta-feira, 19 de novembro de 2009

Nua


Durante tudo o que disseste, apeteceu-me gritar contigo. Pensava "Porque me estás a contar isso?", enquanto batia o pé impacientemente. Cheguei a perguntar algumas vezes, até que vi os teus olhos marejados de lágrimas e finalmente percebi. Era importante para ti. Então, paraste de falar, disseste que já me podia ir embora e viraste-me as costas. Fiquei tão espantada que descruzei os braços sem dar por isso. Fiquei a ver-te, enquanto descias os degraus de uma escada sem fim, com as mãos suadas suspensas no ar. Paraste e ficaste a contemplar a vista, embora eu soubesse que nem davas por ela. Já não sentia frio, só sentia o teu coração. Como é que eu podia, simplesmente, ir embora? Tomei a decisão de não te deixar e caminhei decidida até ti. Só quando pus os braços à tua volta é que me apercebi do quanto sinto a tua falta. As lágrimas desciam pela tua cara abaixo sem esforço e lembrei-me da última vez em que te tinha visto chorar. Não foram muitas as vezes em que choraste à minha frente, sempre te cobriste com uma armadura. Mas ali estavas tu, nua para o mundo. Com a fragilidade à flor da pele, presa no meu abraço. Sei que sempre foi ao contrário, sempre foste tu que me protegeste. Pergunto-me se será assim tão difícil deixares-me proteger-te de vez em quando. Fiz-te pequenas perguntas ao ouvido, ias respondendo com a voz rouca. Quis dizer trinta por uma linha, gritar contigo até, abraçar-te com mais força ainda...Mas contive-me. Apenas precisavas que te escutasse. Parecia que o meu coração se contorcia e distorcia enquanto escutava o teu. Acabámos por caminhar juntas até à sala, onde pessoas diferentes nos esperavam. Custa-me sempre tanto separar-me de ti.

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